"Uma Lição de Vida"
(Aconteceu na cidade de Belém)
A garota chamada Mala-sem-alça,
Sentada num banco de uma praça,
Reclamava da sua vida,
Queria ter muito dinheiro
E arranjar um companheiro
Para se sentir reconhecida.
Já dava sinal de derrotada
Quando apareceu o alado Fado,
Falando com ares de cantada:
Ei, a riqueza está ao seu lado,
Veja, não se faça de desentendida;
Vou tirar seus óculos com sutileza
Para que enxergue a vida
E seu interior com mais clareza.
(Sem seus óculos)
Mala-sem-alça ficou cega de amor,
Via a vida de outra maneira;
Sentada, parecia uma flor,
Assistindo a riqueza verdadeira:
(Uma família feliz)
Bela amamentava seu "pentelho",
Enquanto o filho mais velho
Brincava com um gato
No maior barato.
Inocêncio dava beijos com cheiros em Bela,
Sussurrando besteirinhas no ouvido dela.
Rostos cheios de esperanças:
Do jeito que trocavam caricias,
Mais pareciam crianças
Amando-se sem malicias.
Quando o pentelho começou a chorar,
Sua família o fez florar
Colocando uma pequena mecha,
Encaracolando seu cabelinho,
Beijos simultâneos com carinho:
Pai e mãe davam na bochecha
E irmão na testa,
Pentelho sorria fazendo festa.
(Opa...! esqueci-me de dizer)
A família feliz eram mendigos,
Não tinha amigos,
Ninguém parava pra falar,
A praça era seu lar
E folhas de árvore o teto;
Mostrou a todos por perto
Que importante é estar contente;
A jóia mais valiosa é o amor;
E berço de ouro é nascer com gente
Que não lhe causa dor.
(Após assistir àquela família)
Mala-sem-alça vive feliz,
É como a flor-da-imperatriz,
Bastante sensível e madura,
Já consegue dominar a usura,
E com uma visão melhor do mundo;
Mas está cega de amor por Fado;
De vez em quando, deseja profundo
Reencontrar seu grande alado.
(Cadê Fado?)
Fado está deitado numa nuvem,
Lembrando aquela água passada.
Apaixonado, espera os dias passarem
Para reencontrar sua amada;
E sonha em ter com ela muitos pentelhos;
Vive se olhando em espelhos;
Pra ele, passado e futuro é agora,
Às vezes ri, às vezes chora...
Ruilendis