O Tornado Inconseqüente

O Tornado Inconseqüente

 

 

Uma floresta que estava levando uma surra do fogo gritava olhando para cima: - Grande nuvem negra, lance as suas águas sobre mim, para acabar com este fogo, que está me castigando.

A nuvem negra vendo o sofrimento da floresta, falou: - Não posso jogar as minhas águas sobre você, senão eu posso te machucar. Tenho tanta água, que, provavelmente, vai te afogar; mas tenho outra solução: vou enviar meu filho tornado para te ajudar a acabar com o fogo.

- Obrigada, mas o mande rápido porque estou apanhando demais; não estou suportando tanta dor - falou, aflita.

Antes de enviá-lo, a nuvem disse: - Meu filho, vou te lançar para você ajudar aquela floresta, que está sofrendo nas mãos do fogo. Para ajudá-la, apenas corra com a velocidade de 10 km por hora sobre ela. Essa velocidade é o suficiente para acabar com ele.

- Sim, mãe. Vou ajudá-la e correrei com a velocidade de 10 km. Obrigado por confiar em mim - disse, ansioso.

A mãe lançou o filho em direção à terra. Pela primeira vez, o tornado saiu do ninho para conhecer a vida. Assim que aterrissou, via a floresta desesperada pedindo ajuda: - Socorro! socorro! - Vendo aquele imenso fogo, ele sentia medo e pensou: - Será que sou capaz de acabar com o fogo?

Mas criou coragem e correu com a velocidade de 10 km em direção à floresta. Com os olhos fechados, corria sobre ela. Ao se sentir cansado e com vontade de ver o que tinha feito, parou e olhou para trás, vendo que tinha conseguido acabar com uma parte do fogo: trinta porcento.

- Oh! não! Parte de mim sumiu. Esse tornado está acabando comigo - gemia o fogo, ferido.

Já os filhos da floresta: os animais, alegres com a vitória parcial do tornado, gritavam: - Vá em frente! É isso aí! Você foi demais! Você é nosso herói!

O tornado, empolgado com a vitória parcial, com as palavras dos animais e com o poder que tinha, em vez de continuar a correr, pensou, parado: - Pelo jeito sou muito forte; sou um herói; tenho poder; sou quase um Deus.

Já se achava o todo-poderoso. Logo, voltou a correr bem rápido para testar mais os seus poderes, passando a correr com a velocidade de 30 km. Com essa velocidade, acabou com sessenta porcento do fogo, mas deixou um pequeno rastro de destruição na floresta.

Cego de poder, parecia surdo e não escutava ninguém, só pensava em correr cada vez mais rápido; nem escutava a sua mãe nuvem, que lhe pedia para correr mais devagar; mas ele nem olhava para trás para ver como estava a floresta; só sentia que estava derrotando o fogo. A sensação de poder deixava-o cada vez mais rápido, e já ultrapassara os 100 km.

Enfim, ele acabou com o fogo, mas deixou a floresta bastante arrasada.

Mesmo sentindo que o fogo tinha sumido, nem sequer olhou para trás para ver o estado da floresta; e deveria ter parado de correr, já que tinha cumprido a sua missão, mesmo com imprudência.

Somente pensava em correr cada vez mais rápido para ver o seu limite de velocidade e sentir a sensação de ser poderoso; logo, passou a desafiar a todos que via pela frente:

- Quem é capaz de me parar?

Destruía casas de gente, batia no mar, derrubava morros, árvores... E ao ver uma enorme montanha, não teve dúvida, foi para cima dela. - Pare! pare! você vai se machucar - gritava a montanha. - Não parou e chocou-se com ela, ficando ferido, caído nos braços do chão.

- Eu falei para você parar. Você parecia ser surdo. O poder te deixou assim cheio de arrogância e vazio de juízo. Você ainda é um menino; mal conhece a vida e já acha que pode tudo. Quem acha que pode tudo, pode achar o gosto de ser nada - gritou a montanha.

- Eu achava que era o mais forte do mundo, achava que podia te derrubar e me sentia invencível - falou baixinho ele.

- Só quem pode me ferir e acabar comigo é aquela grande nuvem negra com suas águas, que podem me afogar, me destruir aos poucos.

O tornado, triste, subiu, deitando no colo da mãe, que lhe deu uma bronca: - Falei para não passar dos 10 km, já que você ia machucar a floresta, os filhos dela e também a si mesmo ao se sentir com muito poder. Você é muito novo para muito poder. Você precisa amadurecer para domar muito poder.

- Desculpe-me, mãe! De hoje por diante, eu vou te obedecer; vou tentar ser um ser melhor. Mãe... pelo jeito que a montanha me falou, você parece ser o ser mais poderoso do mundo. Você não se sente especial, em virtude de ter o dom de armazenar bastante água?

- Em primeiro lugar, não sou o mais poderoso. O mais poderoso é quem criou a natureza; e não me sinto especial por ter este dom; não foi esforço meu; não suei para consegui-lo. É como uma herança, que se recebe sem trabalhar por ela. Dom é um presente. Filho, é triste saber que tem muito animal que se sente um Deus por receber dom, ou herança, ou nascer em berço de ouro, ou ser inteligente, ou ter beleza. “Essas coisas... depende-se de sorte.”

Após ouvir o sermão da mãe, passou a ser um ser humilde e responsável. E depois do castigo imposto por ela, virou o guardião da floresta, que o perdoou.

 


Ruilendis