O Tornado Inconseqüente
Uma floresta que estava levando uma surra do fogo gritava olhando para cima: - Grande nuvem negra, lance as
suas águas sobre mim, para acabar com este fogo, que está me castigando.
A nuvem negra vendo o sofrimento da floresta, falou: - Não posso
jogar as minhas águas sobre você, senão eu posso te machucar. Tenho tanta água,
que, provavelmente, vai te afogar; mas tenho outra solução: vou enviar meu
filho tornado para te ajudar a acabar com o fogo.
- Obrigada, mas o mande rápido porque estou apanhando demais; não
estou suportando tanta dor - falou, aflita.
Antes de enviá-lo, a nuvem disse: - Meu filho,
vou te lançar para você ajudar aquela floresta, que está sofrendo nas
mãos do fogo. Para ajudá-la, apenas corra com a velocidade de
- Sim, mãe. Vou ajudá-la e correrei com a velocidade de
A mãe lançou o filho em direção à terra.
Pela primeira vez, o tornado saiu do ninho para conhecer a vida. Assim que
aterrissou, via a floresta desesperada pedindo ajuda: - Socorro! socorro! -
Vendo aquele imenso fogo, ele sentia medo e pensou: - Será que sou capaz de
acabar com o fogo?
Mas criou coragem e correu
com a velocidade de
- Oh! não! Parte de mim sumiu. Esse
tornado está acabando comigo - gemia o fogo, ferido.
Já os filhos da floresta: os animais, alegres com a vitória
parcial do tornado, gritavam: - Vá em frente!
É isso aí! Você foi demais! Você é nosso herói!
O tornado, empolgado com a vitória parcial, com as palavras dos
animais e com o poder que tinha, em vez de continuar a correr, pensou, parado: - Pelo jeito sou muito forte; sou um herói;
tenho poder; sou quase um Deus.
Já se achava o todo-poderoso. Logo, voltou a correr bem rápido para
testar mais os seus poderes, passando a correr com a velocidade de
Cego de poder, parecia surdo e não escutava ninguém, só pensava em correr
cada vez mais rápido; nem escutava a sua mãe nuvem, que lhe pedia para correr
mais devagar; mas ele nem olhava para trás para ver como estava a floresta; só
sentia que estava derrotando o fogo. A sensação de poder deixava-o cada vez
mais rápido, e já ultrapassara os
Enfim, ele acabou com o fogo, mas deixou a floresta bastante
arrasada.
Mesmo sentindo que o fogo tinha sumido, nem sequer olhou para trás
para ver o estado da floresta; e deveria ter parado de correr, já que tinha
cumprido a sua missão, mesmo com imprudência.
Somente pensava em correr cada vez mais rápido para ver o seu
limite de velocidade e sentir a sensação de ser poderoso; logo, passou a
desafiar a todos que via pela frente:
- Quem é capaz de me parar?
Destruía casas de gente,
batia no mar, derrubava morros, árvores... E ao ver uma enorme montanha, não
teve dúvida, foi para cima dela. - Pare! pare! você vai se machucar - gritava a montanha. - Não parou e
chocou-se com ela, ficando ferido, caído nos braços do chão.
- Eu falei para você parar. Você parecia ser surdo. O poder te
deixou assim cheio de arrogância e vazio de juízo. Você ainda é um menino; mal
conhece a vida e já acha que pode tudo. Quem acha que pode tudo, pode achar o
gosto de ser nada - gritou a montanha.
- Eu achava que era o mais forte do mundo, achava que podia te
derrubar e me sentia invencível - falou baixinho ele.
- Só quem pode me ferir e acabar comigo é aquela grande nuvem
negra com suas águas, que podem me afogar, me destruir
aos poucos.
O tornado, triste, subiu, deitando no colo da mãe, que lhe deu uma
bronca: - Falei para não passar dos
- Desculpe-me, mãe! De hoje por diante, eu vou te obedecer; vou
tentar ser um ser melhor. Mãe... pelo jeito que a
montanha me falou, você parece ser o ser mais poderoso do mundo. Você não se
sente especial, em virtude de ter o dom de armazenar bastante água?
- Em primeiro lugar, não
sou o mais poderoso. O mais poderoso é quem criou a natureza; e não me sinto
especial por ter este dom; não foi esforço meu; não suei para consegui-lo. É
como uma herança, que se recebe sem trabalhar por ela. Dom é um presente. Filho, é triste saber que tem muito animal que se sente um Deus
por receber dom, ou herança, ou nascer em berço de ouro, ou ser inteligente, ou
ter beleza. “Essas coisas... depende-se de sorte.”
Após ouvir o sermão da mãe, passou a ser um ser humilde e
responsável. E depois do castigo imposto por ela, virou o guardião da floresta,
que o perdoou.
Ruilendis