Tic e Tac
Irmãos gêmeos e
convencidos, Tic e Tac eram gatos adolescentes que
moravam em um porão do castelo das ilusões, com a mãe, a qual trabalhava todos
os dias lá, sendo lavadeira para sustentá-los; e os dois passavam a maior parte
do tempo dançando e cantando. Tic era dançarino; Tac,
cantor.
Constantemente, a mãe
reclamava: - Meninos! vão estudar; vão trabalhar; parem
de dançar e cantar; deixem de ser meninos, amadureçam.
- Mãe, deixe de enjôo. Nos deixem em paz - resmungavam sempre Tic
e Tac.
Um dia, a mãe ficou doente,
uma doença desconhecida; não podia trabalhar, mal podia sair da cama; ela
tomava muito remédio, mas não melhorava. Os dias se passavam, e nada de se
curar.
Como estava faltando
alimento em casa, os dois tomaram a decisão de trazê-lo. - Temos de trazer
comida; nossa mãe está muito doente - disse Tac.
- Você tem razão, mas o que
faremos para trazer? Não sabemos fazer nada - falou Tic.
- Peraí,
vou pensar... Já sei! Que tal a gente fazer um show
para conseguir comida. Vamos ao mercado do castelo. Provavelmente, nos darão
alimentos pelo show que faremos. Eu, canto; e você, dança - disse Tac.
- Ótima idéia! - pulando,
concordou Tic.
Alegres, logo foram se
aprontar, mas ao procurarem roupas novas para a apresentação, viram que não as
tinham.
- Não dá para se fazer um
show sem roupas novas. O que faremos? – perguntou resmungando Tac. - De
repente, ficaram abatidos.
- Tac,
temos roupas novas sim; as que nossa mão fez e nos presenteou no nosso último
aniversário; mas nós as escondemos no baú; lembra? - falou Tic.
- É mesmo, Tic. Que sorte nossa.
As únicas roupas novas estavam no baú do
quarto deles. Os dois nunca tinham-as usado e não
gostavam delas porque eram para gêmeos: um conjunto todo branco e o outro todo
preto.
Tic vestiu-se todo de branco e Tac todo de preto. Já prontos e
ansiosos, foram juntos ao mercado do castelo. Mas no meio do caminho, decidiram
se separar para cada um fazer a própria apresentação em lugares diferentes,
pois acharam que podiam ganhar mais comida.
- Vamos nos separar? Assim
traremos mais comida. Eu vou para o local onde vende carnes e você para o de
frutas e verduras - deu a idéia Tic.
- Claro! Ótima Idéia. Vamos
nos separar. Tchau! Tic.
Já no mercado, na parte de
carnes, na hora do almoço, Tic gritava: - Venha! venha! gente, assistir ao meu show de dança. Quem gostar do meu
show, bata palmas e ajude-me com um quilo de carne.
Cem pessoas o rodearam e
assistiam ao show de ele, que dançava sorrindo. Ao término, noventa e nove
pessoas bateram palmas, mas ganhou o máximo que podia: cem quilos de carne. E,
num carrinho de mão, um espectador levava as carnes ganhas por Tic, que foi para casa encontrar-se com o irmão.
Enquanto Tac, na parte de
verduras e frutas, também fazia seu show, só que de canto. Assim que terminou,
dos 21 espectadores, nenhum bateu palmas, mas ele ganhou meio quilo de melancia
que era levada nos seus braços e foi direto para casa.
Já em casa, os dois conversavam sobre o
resultado do show, enquanto a mãe, que tinha ido beber água, estava atrás da
porta do quarto deles escutando a conversa:
- Tac, como você se saiu? Eu não me saí muito
bem, apesar de ter ganhado o prêmio máximo. Noventa e nove porcento
das pessoais que assistiram ao meu show bateram
palmas; só uma pessoa não bateu, que ainda, me acompanhou até aqui trazendo as
carnes, é uma criança. Então vi que não tinha me saído bem, pois as crianças,
raramente, metem e demonstram o que sentem. Ainda tenho muito que melhorar.
- Já eu, me saí muito bem, apesar de só ter
ganhado meio quilo de melancia - disse rindo Tac.
- Não entendo
como você pôde ter se saído muito bem, já que só ganhou meio quilo.
- Eu
perguntei à mulher que estava grávida a razão de ter me dado o meio quilo, já
que ela nem tinha batido palmas; e ela me disse que o feto dela gostou do meu
show ao bater cinco vezes na barriga; as batidas dele refletiam contentamento.
Fiquei muito feliz depois que ela falou isso - disse Tac, emocionado.
- Eu também ficaria muito feliz se
acontecesse a mesma coisa comigo. Hoje foi um dia
muito maravilhoso; trouxemos comidas; aprendemos que temos muito que aprender e
melhorar; só falta a nossa mãe melhorar. Vamos ver como ela está?
- Vamos já!
A mão melhorou de imediato
após ter ouvido a conversar dos filhos. A doença dela era desgosto. E sentiu
que os dois amadureceram, mas percebeu, também, que não estava totalmente
certa, em virtude de não ser uma perde tempo dançar e cantar, já que os meninos
adoravam o canto e a dança, que os ajudaram a trazer alimentos.
Graças ao grande incentivo
da mãe, Tic e Tac se tornaram os grandes artistas do
castelo e ela não mais precisou trabalhar.
Ruilendis