O Sábio Sabiá

O Sábio Sabiá

 

 

Sabiás jovens de diversas partes do mundo eram capturados e levados para uma escola de canto a qual ficava na maior montanha do mundo, onde o canto do sabiá podia ser ouvido por todo o mundo, através duma gigantesca antena. Escola construída por Miole, um “caça-talentos” que ganhava muito dinheiro com o canto deles.

Nos primeiros dias na escola, os sabiás não cantavam, mas com o passar do tempo e as palavras de incentivo de Miole, quase todos cantavam:

- Cantem! cantem! treinem as suas vozes, que vocês serão muito famosos – incentivava sempre ele. - Depois, todo sabiá cantava e treinava a voz, sonhando com a fama; exceto um não cantava nem treinava: o Sábio sabiá, que vivia muito deprimido, almejava “alpiste” e só sabia assobiar olhando para cima: - Psiu! Psiu!

Os outros sabiás viviam caçoando do Sábio sabiá, e já gritavam: - Doido! Você é ruim. Você é uma vergonha para esta escola. - Mas ele não ligava para o que os outros diziam.

Após alguns meses, chegou o dia da apresentação, todos os sabiás estavam alegres e ansiosos, exceto um que continuava deprimido. Um por um dos sabiás foi levado por Miole, para se apresentar no topo da montanha, durante 30 minutos, mas preso a uma gaiola de ouro.

Todos se saíram bem, menos o Sábio sabiá, que na hora da apresentação, ficou olhando para cima, pensava e assobiava: - Nuvem! quero te abraçar! Quero alpiste! - Logo muitos sabiás o vaiavam, mas ele não estava nem aí. Miole vendo que o Sábio somente ficava assobiando, jogava-lhe alpiste e gritava: - Seu sabiá! cante! cante! Eu estou perdendo audiência e a paciência com você e seus assobios. Cante para aumentar a audiência. - E o pássaro não respondia aos os gritos de Miole, que ficou com raiva, pegou a gaiola em que estava o Sábio sabiá e a jogou no precipício.

O sabiá, em vez de rezar ou pedir ajuda, sorria, enquanto a gaiola se esbarrava nas pedras da montanha; e de tanto baque, foi destruída, e o pássaro ganhou a liberdade, e voou. Ao invés de descer, subia, subia, conseguindo ultrapassar a montanha; chegou até uma nuvem admirada por ele, que ficou deitado nela, recomeçando a cantar, sendo ouvido por todo o universo:

- Meu alpiste é a liberdade, que me leva à felicidade, que és tu, fofa nuvem, que me deixa um super cantador.

Em suma, outros sabiás continuavam cantando, mas, sempre engaiolados dentro duma gruta da montanha; somente saíam da gruta para se apresentar; assim que envelheciam, não tinham o mesmo canto de antes e tinham a chance de ser livres, pois Miole oferecia-lhes a liberdade, mas preferiam viver lá engaiolados, cheirando a fama dos sabiás jovens.

Já o Sábio sabiá, vivendo livre e nas nuvens, era ouvido por todo o universo: O canto dele chegava até Deus e tinha o mesmo encanto de antes, mesmo depois de ter ficado idoso: A liberdade era sua companheira que o deixava com a voz e a alma jovens.

 

 

Ruilendis