A Praça mais Linda
Uma ex-namorada minha pediu-me ajuda para eleger a praça mais
linda de nossa cidade. Então, quase todos os dias de noite,
durante 2 meses, passamos a contemplar e namorar em cada praça.
Para a ex, a mais linda de todas foi a praça
da Bandeira, a qual ficava numa área nobre, no centro; era grande, calçada por
mármores italianos, repleta de esculturas de anjinhos e estátuas de pessoas
famosas; ornamentada por vários tipos de flores e árvores importadas; tinha
bancos de azulejo; e vivia sendo pisada por gente “finíssima” que adorava se fechar
e coopar.
A eleita por mim era o oposto a da Bandeira; ficava na periferia,
não tinha nome e parecia abandonada.
Depois que elegi, a ex começou a sorrir, tirar sarro de mim e da
praça. Ao parar de sorrir, perguntou-me por que elegi aquela. E eu lhe respondi
que era a mais linda, visto que era a que mais acolhia casais de namorados.
Após me resposta, ficou séria, sem graça e pensativa. Em seguida,
falou que nos dias em que estivemos lá, apenas tinha alguns casais. E eu lhe disse
que não tinha alguns, mas dezenas: casais de pombos já
faziam daquele espaço um poleiro de amor.
A praça eleita por ela tinha um exterior bonito, mas, um interior
feio: parecia infeliz; raramente, viam-se casais namorando; guardas prendiam
desejos de apaixonados; e não tinha estátuas vivas dormindo em bancos como na a
eleita por mim, a qual, embora fosse pouco iluminada por luzes, era bem
iluminada pela chama de casais que adoravam um escurinho; e vivia sendo
amaciada por pés descalços de gente nada finíssima que adorava dialogar e vagar.
A namorada se tornou ex porque terminei o namoro naquele mesmo dia
quando descobri que a mesma era insensível, cruel e magoou a minha praça, que
tremeu de mágoa depois de me ouvir: Ao sair da casa dela, chateado e
decepcionado, fui àquela praça sem nome, onde, eu, sentado, num banco, pensava
alto sobre a relação e o modo de como a ex tinha agido. Logo que senti a praça
magoada, voltei para casa da ex e rompi com a mesma, e acabei ficando com essa
praça.
Ruilendis