"Monólogo"


O chirriar da coruja
Anuncia minha chegada
Na última morada.
Venho lavar roupa-suja
De uma vida bem passada:

Sei que podes me ouvir,
Pois não se ouve um ruído.
Olha... não estou deprimido,
Apesar de não mais sorrir;
Apenas tenho me esquecido.

Não temo clima sombrio;
Medo em mim não tem espaço,
Mas uma coisa me deixa em colapso:
Tenho receio do frio,
Ora não tenho mais teu abraço.

Vim na tarde da noite 
Porque o silêncio impera:
Lembra como a gente era,
Pombos sem um limite
Na era da primavera.

Sei que, também, ias me visitar;
Eu e o pássaro cantávamos;
Eu e a lembrança namorávamos,
Quando sentíamos teu calar;
E de alguma forma, todos nos tocávamos.

Limpo a sepultura com a mão
Para que sintas quentura.
E com um gesto de jura
Que não se vai em vão,
Minhas digitais deixarão ternura. 

Eu... não... estou chorando,
É que... caiu um cisco no olho.
Bem... eu me... recolho
Para... estar te... abraçando.
Sentimos tua falta: eu e nosso pimpolho.


Ruilendis