O Beija-Flor e a Flor Meiga
Depois do meu sublime sonho
com a flor meiga: pela manhã, fui ao bosque próximo da minha casa para celebrar
a vida e as flores; acabei encontrando uma rosa bem pequena; ao ficar
contemplando-a, eu apenas me lembrava de Rosinha: a flor meiga do meu sonho; em
seguida, eu a acariciava imaginando a pele da outra, e, depois, comecei a
sussurrar: - Rosinha, fale comigo, fale!
Acho que tive um ataque de
loucura naquele instante, e acabei adormecendo ali mesmo, no bosque, no chão. A
minha vontade era tanta de reencontrar a flor meiga que sonhei novamente com a
mesma no jardim mágico da casa de Deus:
No instante em que avistei
Rosinha, fui correndo em sua direção. O meu sorriso parecia o pôr-do-sol; eu
estava tão alegre por vê-la. Mas parei assim que um beija-flor pousou nela. Com
uma dor arranhando o meu peito, eu os observava sem chamar a atenção.
O pássaro a tocava com as
suas asas, como ela já fosse a sua namorada. Já Rosinha respondia aos carinhos
abrindo e fechando as pétalas. Estava tão dengosa e meiga, que mais parecia uma
garotinha vivendo o primeiro amor: As pétalas mais pareciam bochechas
vermelhinhas.
O beija-flor sorria e
cantava para flor; o canto, a melodia dele, contagiava a
todos ali por perto: alguns pássaros cantavam dançando, abelhas jogavam
mel nos dois e outros seres ninavam. Em resposta ao canto, ela sorria e
balançava as pétalas como estivesse batendo palmas.
Eu nunca tinha visto dois namorados como
aquele beija-flor e a flor; tudo parecia girar em torno deles. Houve um momento
em que, mesmo sem bater as asas, o pássaro (que não estava mais em cima dela)
flutuava como estivesse em pé diante da amada.
No instante em que abaixei
a cabeça por estar arrasado, começou a chover; e fiquei logo alegre porque
achei que o pássaro ia embora deixando a flor. Mas, apesar da chuva, da
ventania e do frio, não a abandonou. Quanto mais chovia, ventava e esfriava,
ficavam ainda mais juntinhos; não havia tempo ruim para os dois, e nada
conseguia separá-los. E, quando a chuva se foi, vi um lindo arco-íris, um
arco-íris de apenas duas cores: rosa e violeta; rosa era a cor da flor; e
violeta a do beija-flor.
Até pensei em espantá-lo,
pois eu era apaixonado pela flor e a queria só para mim. Rosinha ao me ver, percebeu em meu olhar a minha intenção de
afugentá-lo, e abaixou as pétalas demonstrando tristeza e desapontamento
comigo.
Meus sentimentos estavam
confusos; e naquele momento, saí correndo triste e fui bater na porta da casa
de Deus; ajoelhei-me, abri os braços e as mãos e gritei: - Por que teve que
acontecer o amor entre o pássaro e a flor?
A companheira de Deus –
Inspiração - apareceu na janela, olhou para mim e jogou pétalas de todos os
tipos de flores e cores sobre mim e desapareceu
- O beija-flor vai espalhar
os polens meigos dela em vários lugares, fazendo com que nasçam flores meigas.
O amor supera diferenças. Apesar de serem diferentes, um pássaro e uma flor, os
sentimentos deles se correspondem. O amor não tem idade nem identidade; basta
haver sinceridade e cumplicidade. E lembre-se de que você é homem e também,
deseja viver um amor com ela.
Após aquelas palavras,
joguei a pétala, que voou e grudou em meu peito esquerdo. Na mesma hora, voltei
para ver o casal, que continuava namorando. Então, resolvi construir uma casinha
de pássaro para o mesmo ao lado dela. Quando construía, Rosinha perguntou-me: -
Por que você está fazendo isso?
E eu respondi: - Você
merece ser feliz; você deseja que ele fique ao seu lado; eu te amo e ele
também. O pássaro tem mais vida do que eu: a qualquer momento posso partir.
Quando ela disse que me ama,
fui acordado por pétalas que caíram daquela pequena rosa do bosque.
Ao olhar a rosa, pensava em
levá-la para casa; mas não levei, porque eu ia feri-la. Então, larguei tudo para
ficar com ela.
Hoje, vivo a céu aberto,
deitado no chão, cuidando do bosque. Todas as noites, fico
cantando para flor e sonhando em dialogar com a mesma: o meu maior sonho.
Ruilendis