"Amor: Guerra"

Declarar amor é declarar guerra:

A guerra em que muita gente tem receio
de entrar e lutar pela existência dela,
apesar de a gente ter armas de anseio;
afinal, essa guerra parece cela
assombrada que nem sequer tem janela.

Muita gente tem ânsia de dar passeio,
mesmo que essa cela seja um paraíso
com tudo que a gente tanto já deseja.

Essa guerra finda sem dar um aviso
muitas vezes. Ela leva a gente à igreja
(pra que a crença cure a gente) e (ou) à cerveja
(pra que o álcool traga pra gente um breve riso)
assim que finda deixando uma ferida.

A ferida demora pra ser curada,
e, se curada, raramente, é apagada,
por causa da cicatriz grande encontrada
na(s) entranha(s), que fica sendo mordida
pelas lembranças da guerra, que parecia
infinita no peito do batalhador.

Quem sonha com essa guerra todo dia,
não quer que seja finita como o ardor.

A gente entra nela para ter mais vida,
mas, às vezes, acaba encontrando a morte.

E, nessa guerra, também, tem de ter sorte
e orar para a gente não ser atingida
pelas invejas e pelos empecilhos
atirados pelos ditos aliados.

A mais devastadora bala perdida:
quando o parceiro deserta (e deixa os filhos
perguntando-se: Por que fomos largados?).

Quando o amor encerra, parte da gente se enterra.


Ruilendis