"Uma Fila de Estivadores"


De cima de um arranha-céu, pra baixo, olhando:
uma fila de estivadores carregando
sacos de açúcar nas costas lembram um bando
de formigas em fila carregando grãos
de açúcar. De perto, olhando-os, notam-se mãos
e pés sofridos, pele em pranto, nada sãos,
mas parecem ser máquinas, tão vigorosos,
ágeis; uns: até cantam, mesmo dolorosos,
riem e exibem-se como se fossem gostosos.

Contudo, quando (estão no berço do descanso)
param - a razão avança - quebra o balanço:
a fantasia - o sonho - que lhes dava amanso,
coragem, determinação e os iludia.
A alma parece que pesa e a melancolia
pica-os, ao pensarem que estarão todo dia
ali, carregando nas costas os que tanto
pisam-nos. Formiguinhas vendo-os, quase em pranto,
pisados, vêem um espelho e sentem espanto.


Ruilendis