Caçador
Mitral vive numa floresta,
é um senhor que adora caçar e mora numa cabana com o filho de 12 anos, Vigálio.
Bem cedo, antes de o Sol se
pôr, enquanto o filho dorme, o senhor decide caçar,
embora tenha alimento suficiente na própria moradia para vários dias. Antes de
ir, afaga Vigálio dizendo baixinho: - Durma bem, meu
filho. - Em seguida, pega a espingarda e vai à caça.
Muito sorridente, já dentro
da mata, escuta barulho de animais, e vai correndo em direção a eles; e vê dois
leões pequenos.
Atrás de uma enorme árvore:
um cedro, fica observando os leãozetes,
que brincam de corrida; e repara se os pais dos mesmos estão por perto. Como
não estão, decide atirar, mesmo vendo a felicidade dos leões. Mira nos dois e
ainda sorri, atirando em um deles, o qual morre rapidamente. E em vez de o
outro fugir, fica mexendo com a pata esquerda no irmãozinho já morto.
Enquanto o leãozete mexe tentando reanimar, o caçador mira e atira no
mexedor, que cai no chão ficando bem ferido e grita alto de tanta dor,
contorcendo-se; e Mitral, de imediato, prepara a espingarda para dar o tiro
final; mas antes de atirar, a mãe dos leãozetes
aparece depois de escutar os gritos dos filhotes e vai em
direção aos dois.
Vendo os filhotes feridos
no chão, começa a dar lambidas neles chorando. Mas o
caçador, sem pena e com medo da felina, dá um tiro na mesma, que morre de
imediato. E vai até os três. Rindo, observa-os: a leoa morta, o leãozete ferido e o morto. O ferido com um olhar de
tristeza olha para Mitral, o qual, sem dó, atira no leãozete,
que logo morre.
Depois da matança, ainda
faz uma grande festa, dando pulos de alegria; e leva para casa a cabeça da leoa
como troféu, deixando os leãozetes mortos ali mesmo,
no chão.
Caminhando de volta para
cabana, o caçador não sabe que o pai dos leãozetes
mortos ataca e fere Vigálio na cama. Mas, o leão, de
repente, decide ir embora sem matar o garoto, que fica muito ferido, perdendo
um dos braços.
No momento em que chega à
cabana, encontra o filho ferido com marcas de ataque de leão. Mesmo sentindo
muita dor, Vigálio, gemendo, pergunta: - Pai, você
foi para onde?
- Eu fui caçar. Não fale
mais; vou pegar medicamentos para salvar você, meu filho – responde,
aflito.
- Nada pode me salvar; já
estou morrendo; fique aqui comigo ao menos neste momento. Ó pai, você foi caçar
de novo; logo hoje. Hoje você deveria ficar comigo o tempo todo.
- Por quê? – gagueja Mitral.
- Porque hoje é o meu
aniversário.
E Vigálio morre nos
braços do pai, que começa a chorar e gritar: - É muita dor; é muita dor. Deus
por que tanta dor? Por que isto está acontecendo comigo?
Através da cabeça da leoa,
a qual está nas costas de Mitral, Deus lhe responde:
- As dores que você sente
agora, vários animais sentiam ao verem os próprios parentes mortos ou feridos
por você. O que matou seu filho foi o seu sentimento mortífero. Se você
estivesse aqui hoje o tempo todo, nada disso ia acontecer, quando o leão
buscava alimento para os próprios filhotes. O seu filho dormia no instante em
que foi atacado pelo leão, que o viu deitado, achando que era uma grande carne.
Caçador! quem caça dor, ameaça a própria calmaria.
Após as palavras de Deus,
Mitral não fala mais nada, cobre Vigálio com um
lençol e leva-o para sepultar na beira dum rio.
Caminhando com o filho nos braços,
dentro da mata, vê o leão que matou Vigálio (ao lado do felino está o braço do garoto), dando
lambidas nos próprios filhotes mortos e na leoa sem cabeça, que ainda está nas
costas do caçador, o qual pára para ver o leão, triste, ao lado dos parentes falecidos.
E sem raiva, o caçador,
pensativo, olha-o. Vendo essa cena, sem medo, anda até o leão; e assim que
chega, é encarado pelo felino, que vê o garoto ferido e posteriormente a cabeça
da companheira nas costas de Mitral.
Entendendo tudo, o leão não
ataca o caçador, que sem raiva também, e compreendendo o porquê dos
acontecimentos, coloca Vigálio junto aos leões
mortos.
Nenhum animal da floresta
entende essa cena: o caçador afaga os leãozetes mortos
e coloca a cabeça da leoa junto ao corpo da mesma, passando a afagá-la;
enquanto o leão afaga o filho de Mitral. Assim que os dois abaixam as próprias
cabeças fechando os olhos, a luz da Lua apaga por alguns segundos, e os
filhotes, a leoa e Vigálio ressuscitam, ficando sem
nenhum ferimento como nada tivesse acontecido.
Ao se levantar, o filho do caçador grita: -
Pai! pai!
Já os leões: a leoa e os dois filhotes vão
para cima do leão, que os lambe.
- É um milagre! - grita
Mitral, que vê o próprio filho e os leões vivos, e logo dá um abraço forte no garoto,
dizendo: - Feliz aniversário, meu filho querido.
E a família de leões começa
a viver na casa de Mitral, que deixa de ser caçador e passa a ser afagador. A diversão e a missão dele, agora, é afagar os
animais, já que a magia dos afagos foi o milagre que salvou o filho e os leões.
Ruilendis